segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Pelas ruas que andei


Já andei alguns bons quilômetros por ruas periféricas e centrais de várias cidades brasileiras, das mais conturbadas, famosas e lotadas até aquelas mais vazias, calmas e menos conhecidas. E desde muito antes de entender e saber trabalhar numa cozinha e ter estudado outro tanto sobre os perigos da falta de cuidado com a higiene e manipulação de alimentos e até mesmo desde antes de me tornar um trabalhador e ser apresentado ao mundo real como office-boy, já era um viciado em comidinhas de rua. Quando as espinhas ainda purulavam em meu rosto, muito pouca coisa se procurava e se comprava em mercados e os supermercados ainda nem haviam chegado por aqui. Praticamente tudo o que se comia era comprado em feiras, desde as frescas massas caseiras, passando por todas aquelas latas de bolachas até todas as frutas e legumes. E diga-se que nos meus arquivos memoriais, tudo com muita qualidade e sabor. Eu ajudava minha vovó carregando as sacolas ou puxando o carrinho, num misto de obrigação e satisfação. Mas o ponto alto dessas manhãs era o final triunfal, a parada e o descanso na barraca dos deliciosos, cheirosos, bem recheados, suculentos pastéis da Dona Keiko e do Seu Kasuhiro. Meu Deus o que era aquilo, fosse qual fosse o sabor e sempre na companhia daquele maravilhoso vinagrete especial com repolho. Reminiscências... Pois desde então já estacionei em alguma calçada para um churro recheado, um espetinho de camarão, um porquinho (o peixe) bem fritinho e crocante, um pernil na chapa bem acebolado (na porta do estádio), um infantil quebra-queixo, uma colorida maçã do amor, uma saborosa queijadinha, etc, etc, etc. Muito do verdadeiro sabor de povo esta disponível pelas calçadas e esquinas do Brasil e mundo afora, o que é ir a Salvador e não comer um acarajé na rua, ir a João Pessoa e não saborear uma tapioca na feirinha das tapioqueiras, ir a Belém e não tomar um tacacá, em São Luiz seu popularíssimo açaí salgado. E muitos outros sabores e belas surpresas. Não deixe o preconceito atrapalhar suas descobertas, há muita vida além das mesas estabelecidas. A foto é no Afeganistão, e de alguma comidinha que ainda não descobri.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

19 Toneladas


19 toneladas, 15 toneladas, 270 toneladas. Esses números gigantescos e também absurdos se referem a quantidade de agrotóxicos ilegais apreendidos no país apenas nos últimos 12 meses. Se os números se referem apenas aos ilegais, imagine a quantidade total de agrotóxicos que são usadas em nossa agricultura tradicional. Tenho plena consciência de quanto sofrem os produtores rurais com a falta de incentivo e de linhas de crédito para o custeio da produção e também de como é muito mais simples e fácil para esses produtores simplesmente espalhar o veneno pelo campo ao invés de ir atrás de capacitação e do conhecimento necessário para aumentar a produção sem o uso indiscriminado desses mesmos venenos. É uma mudança difícil e que exige muita vontade e determinação. Mas muito dessa mudança também depende de nós como cidadãos e como consumidores e até já entrei nesse assunto anteriormente. Como cidadãos podemos através do voto mudar um pouco da cara dessa vocífera, insipiente e devastadora bancada ruralista, formada na absoluta maioria por latifundiários preocupados exclusivamente com o lucro a qualquer preço, sem se importar com a derrubada de matas virgens e a contínua contaminação de solo e água. Como consumidores temos que aderir definitivamente aos orgânicos, são muitas feiras de pequenos produtores espalhadas por esse imenso Brasil que comercializam exclusivamente produtos orgânicos, tudo bem que o preço ainda não o ideal, mas quanto mais consumirmos, mais acessível ele ficará. Diga sim aos orgânicos, à saúde e ao sabor. Por você e por todos nós.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Caviar na Cueca


Os impostos que incidem sobre os alimentos e produtos industrializados são incrivelmente absurdos. O valor final da mercadoria chega a ser até 2, 3 vezes maior que o preço real sem o imposto, seja qual mercadoria for, do quilo de açúcar ao carro zero. As câmaras de dirigentes lojistas realizam em shoppings de muitas capitais, pequenas feiras que vendem produtos cedidos pelas próprias lojas, pelo preço sem o imposto, uma forma de mostrar ao consumidor final que o imposto na maioria da vezes é muito maior do que a margem de lucro dos comerciantes. Quando se trata de importados então, os preços são hipervalorizados. Sem contar o fato que muitos insumos simplesmente não são encontrados, pois devido a baixa procura, ninguém tem o interesse de enfrentar toda a burocracia para trazê-los até nós. E quem os traz, faz o preço, pois não há similares nem concorrentes. Isso nos leva até o problema abordado em uma ótima reportagem produzida pela Folha; a importação ilegal feita pelos próprios chefs ou restaurantes. São as pequenas e potentes trufas, o longínquo caviar, o inigualável presunto de Parma, as deliciosas chouriças portuguesas e espanholas e até delicados temperos que nem são tão caros assim, mas simplesmente não exstem aqui. O que fazer? Pagar o preço superfaturado e repassá-lo ao cliente ou arriscar o pescoço e trazer na mala para poder ter um preço final menos assustador para os padrões nacionais. Leia antes que cometa um crime.

domingo, 8 de novembro de 2009

Comida de Inspiração


Seus quadros foram e são tachados por muitos especialistas de bizarros, mas Arcimboldo nascido em Milão lá no século XVI, renasceu pelas mãos dos Surrealistas, Salvador Dalí entre eles, no início do século XX. Seu inconfundível trabalho também já serviu de fonte inspiradora para no mínimo dois interessantes romances ficcionais; o primeiro é 2666 do autor chileno Roberto Bolaños, obra literária que tem um personagem nominado propositalmente de Arcimboldi, e que foi ganhadora em 2008 do National Book Critics Circle Award; o segundo chama-se The Coming of Vertumnus, publicado em 1994, e que faz parte da obra do prolífero escritor britânico de ficção científica Ian Watson, autor que também teve uma obra adaptada para o cinema, A.I. - Inteligência Artificial, melancólico filme do diretor Steven Spielberg. Arcimboldo ainda é um ícone para o trabalho alimentício-criativo do já postado aqui, Vik Muniz. A tela acima intitula-se Verão e pertence a sua mais conhecida série intitulada As Quatro Estações. Um viva para a comida, para as ficções científicas e para a criatividade. Dois vivas para os diferentes.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Fórmula


Será que é isso?
Pode até não ser, talvez ainda falte algum ingrediente nessa fórmula, mas ela quase resolve o enigma de como conseguir reger um esquadrão que trabalhe unido, aguente bem o calor e a pressão, e ainda consiga continuamente, dia após dia e noite após noite, entregar em um tempo satisfatório, um prato como prometido no menu. O que significa na maioria das vezes: bonito, saboroso e na temperatura adequada. Nem todos tem o perfil adequado, mas depois de três anos pagando a mensalidade de um curso superior que na maioria das vezes é maior do que o salário da grande maioria que atua na área, é dificil de entender e explicar. Parabéns aos que conseguem entrar na profissão, ser competentes, fazer sucesso e ainda assim, se manter humanos.

+ informações na imagem.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Comida Para os Vivos e os Mortos


Muitas religiões, tradições, crenças e crendices apreciam e cultivam o fato de se ofecerecer aos mortos algum tipo de alimento, seja ele crú ou cozido, raro ou popular, monocromático ou colorido. Desde os rituais orientais silenciosos com fotos e a fumacinha aromática do senko até os festivos latino americanos do Dia De Los Muertos, a oferta de alimentos é extremamente signicativa e simbólica, e fora o desperdício e alguns exageros, gosto desse papel do alimento como um meio de ligação com um rico passado e como um tipo de satisfação não biológica. Como fotógrafo sempre tive muitos amigos latinos (principalmente peruanos e mexicanos) que fotografavam não só enterros, como pessoas já mortas em cenas que muitas das vezes eram especialmente montadas para o fotógrafo, é muito comum para eles. Nós da américa não espanhola ainda temos uma relação muito difícil com nossas perdas e a aceitação da finitude humana, temos um rancor e um medo que talvez nos consuma mais do que o necessário. Hoje, como cozinheiro e no Dia deFinados, ofereço um alimento que não precisou da minha interferência para ser belo e suculento, ao maior número de comensais possíveis, aos que conheci e admirei e aqueles que infelizmente não tive essa opção. Inclusive os irracionais. Salve Saudade!

Boas!

domingo, 1 de novembro de 2009

Comida de Domingo


Quantos docinhos bonitinhos você já encontrou, principalmente nas modernas festas de casamento, que eram lindos, coloridos, criativos, mas tinham um sabor absolutamente horrível. Muitas vezes. até o personagem principal da festa (não humano), os enormes e maravilhosos bolos, são intragáveis. Há um tempo atrás, quando os docinhos eram sempre os mesmos clássicos e gostosos e os bolos não conheciam a pasta americana, era dificil não sair das festas empanturrado e até com alguns exemplares nos bolsos de algumas crianças. Agora, um pensamento de domingo me percorre, será prefrível contentar e saciar as lindas papilas gustativas ou os curiosos olhos. Os convidados reclamariam mais pela falta de sabor ou pela falta de orinalidade. São questões para muitos aniversários, casamentos, .... Confesso que sempre fui mais da turma do sabor, mas esse rapaz aí de cima ficou muito bonito e parecido com o original, se não for gostoso pelo menos durante um tempo serve de enfeite. Adorei.
Boas!